Os sapatos tem uma grande influência na qualidade de vida da sociedade ocidental.. Inúmeras doenças dos pés podem ser causadas ou agravadas por alguns tipos de calçados. Didaticamente nós podemos dividir os problemas por regiões como próxima aos dedos (antepé) quanto os problemas na região próxima ao calcâneo (retopé).
No antepé, sapato com bico fino e salto alto, muito presentes no universo feminino e que por um lado traz beleza e elegância, pode ser um importante fator responsável pelo famoso Joanete, tecnicamente chamado de hallux valgus. Esta enfermidade se manifesta com deformidade dolorosa e progressiva do dedão do pé, aumento de protuberâncias ósseas, calosidades e ainda podem acometer os demais dedos do pé piorando ainda mais a dor e a dificuldade em aceitar calçados fechados. Mesmo tendo um fator genético na formação desta dolorosa deformidade, aquele tipo de sapato tem uma relevante importância na formação e agravamento do Joanete.
Outros problemas relacionados com o calçado citado acima são as deformidades em garra com calosidades dolorosas dos dedos menores e as dores crônicas na planta dos pés (metatarsalgias).
O bico fino associado ao salto alto além de comprimir demasiadamente todas as estruturas do antepé, diminui expressivamente a área de contato do pé com o chão, produzindo um expressivo aumento de pressão durante a descarga de peso que se manifesta como bursites, neuroma de Morton, lesões ligamentares, calosidades plantares entre outros. Dores que literalmente são uma pedra no sapato de quem a tem.
Em relação ao retropé, o salto alto produz um encurtamento, quando em uso crônico, do tendão calcâneo (tendão de Aquiles) e ao descer do salto alto, dores na inserção do tendão (tendinopatia tendão calcaneo) e em fascia plantar (fasciite plantar) podem surgir.
Os pacientes com diagnóstico de diabetes mellitus de longa data devem ter cuidados redobrados e atenção especial em relação aos tipos de calçados utilizados. As complicações como ulceras, infecções e amputações tem uma intima correlação com os tipos de calçados.
Quem sofre mais com os danos nos pés, as mulheres ou os homens? Por que?
Devido aos tipos de sapatos utilizados no universo feminino em nossa sociedade, as mulheres padecem de maiores complicações. Os calçados masculinos, de forma geral, são mais anatômicos, aceitam bem as deformidades pré-existentes e ainda com eficientes sistemas de amortecimento.
Esses problemas são reversíveis?
Alguns destes transtornos são reversíveis com específicos tratamentos e mudança do tipo de calçado. Por outro lado, quando já instalada uma deformidade, os tratamentos não cirúrgicos visam melhorar o padrão da dor sem conseguir a correção da deformidade. Uma minuciosa avaliação clínica dos pés por um ortopedista especialista em pé se faz necessário para o êxito nos mais variados tipos de tratamento.
Quais são as formas de tratamento?
Quando avaliamos um paciente com algum destes problemas citados, precisamos compreender os hábitos, tempo de exposição e os tipos de calçados utilizados além da compreensão da patologia envolvida. Após esta investigação, inúmeros tratamentos não cirúrgicos estão a nossa disposição e a individualização da proposta terapêutica poderá ter a fisioterapia, anti-inflamatórios, infiltrações, uso de palmilhas e também a modificação do tipo de calçados como opções. Para aqueles que estão em um estágio irreversível e/ou refratário ao tratamento conservador, os procedimentos cirúrgicos complementam as formas de tratamento.
Qual é o problema mais recorrente nos pés por causa do sapato?
Os problemas mais recorrentes são o joanete e a metatarsalgia. O primeiro apresenta-se com dores no dedão do pé associado a progressiva deformidade que podem se espalhar para os dedos menores e o segundo como dores em um variado grau de complexidade sendo o fator mecânico preponderante em sua manifestação.