O ombro é a articulação mais instável do nosso corpo.
A anatomia óssea do ombro pode ser compreendida como uma semi-esfera (cabeça do úmero) articulada a um prato ou pires (glenóide) e isso, ao mesmo tempo que lhe confere uma grande amplitude de movimentação, a torna naturalmente instável, ou seja, suscetível a deslocamentos.
Dependência da ação estabilizadora de outras estruturas anatômicas.
De forma a evitar que o ombro se desloque, existem estruturas que atuam em sua estabilização, sendo dividas em dois grupos:
Estabilizadores estáticos: Atuam de forma passiva, sem que tenhamos que controlar sua ativação. Essas estruturas são a cápsula articular, os ligamentos e o labro glenoidal. Este último também atua na função de propriocepção, enviando ao sistema nervoso informações sobre o posicionamento do ombro, possibilitando uma movimentação mais bem controlada.
Estabilizadores dinâmicos: São compostos pelo manguito rotador, grupo de quatro tendões que envolve a cabeça umeral e a pressiona contra a glenóide, mantendo a articulação em contato constante. Depende da contração muscular para que desempenhe sua função.
A alteração ou lesão de alguma dessas estruturas pode levar ao deslocamento ou instabilidade.
Traumatismos: Acidentes, quedas ou torções podem gerar rupturas de estruturas estabilizadoras, fazendo com que o ombro se desloque no momento do trauma (luxação aguda). Em pessoas mais jovens os estabilizadores estáticos costumam ser as estruturas a sofrer a lesão. Já nos mais velhos, o manguito rotador tende a ser estrutura a se romper.
Deslocamentos repetidos: Algumas pessoas tem os ligamentos e a cápsula articular mais elásticos que o padrão comum, o que acaba por tornar o ombro mais instável e, por vezes, pode ser a causa dos deslocamentos que ocorrem de forma sistemática (luxação recidivante), mesmo sem um trauma inicial. As lesões traumáticas, se não tratadas adequadamente, também podem gerar a repetição dos deslocamentos.
O comprometimento da cartilagem pode ser uma consequência.
A cada novo episódio de deslocamento, forças de atrito anormais são exercidas contra a cartilagem que reveste a articulação do ombro. Esse estresse repetitivo pode acabar por machucar as células cartilaginosas, que são bastantes sensíveis, levando à lesão cartilaginosa, com erosão e, em último caso, artrose.
O tratamento adequado devolve a função do ombro e a qualidade de vida.
Em casos onde não há lesão, mas uma maior elasticidade das estruturas estabilizadoras, a reabilitação fisioterápica tende a ser o tratamento de escolha, trabalhando com o fortalecimento do manguito rotador e com o treinamento neuromuscular para um movimento mais harmonioso e estável do ombro.
Quando há lesões das estruturas anatômicas responsáveis pela estabilização o tratamento de preferência é cirúrgico, objetivando fazer o reparo destes estabilizadores e devolver ao ombro a capacidade de se movimentar sem o risco ou medo dos deslocamentos. A técnica cirúrgica a ser empregada depende de uma avaliação detalhada, envolvendo entrevista, exame físico e análise de exames complementares de imagem.